terça-feira, 11 de abril de 2017

Os 12 mil km da troca de óleo da kawasaki

Eu pensava que a cara de pau das fabricantes quanto a altas quilometragens recomendadas para a troca de óleo já tinha atingido seu limite, mas...

O troféu temporário agora vai para a kawasaki.

12.000 km.
Perdi a informação de quem me enviou o link, peço desculpas por não poder dar crédito ao leitor que sugeriu a postagem, procurei no email e nos comentários do blog e não encontrei... my bad.

Troca do óleo e do filtro de óleo a cada 12 mil km...

Mas o que importa aqui é o seguinte:

A kawasaki está recomendando trocar o óleo do motor a cada 12 mil quilômetros, e em menor quilometragem em caso de uso severo — mas não define bem o que é uso severo.



Eles falam em condições empoeiradas, úmidas, lamacentas, de alta velocidade, ou partidas e paradas frequentes.

Mas não dizem que a principal condição de uso severo para todos os motores é aquela que as pessoas pensam que é uso leve:

Ir de moto para o trabalho ou escola em jornadas curtas de até 30 km todos os dias... não dando tempo para o motor esquentar adequadamente.

O resultado é óbvio, os proprietários vão pensar que não fazem uso severo e somente irão se preocupar com a troca aos 12 mil quilômetros acreditando nas virtudes do óleo mágico...

SÓ QUE A KAWASAKI NESSE MANUAL NÃO FALA NADA SOBRE ÓLEO SEMI/SINTÉTICO...
Quem lê o manual em inglês, se sente autorizado pela fabricante a usar óleo mineral...

OPS, pequena correção: 

A categoria SM é de óleos sintéticos. Mas SG, SH e SJ são óleos minerais. 

De qualquer forma, isso não é mencionado no manual e eles não fazem distinção entre um tipo e outro para chegar a 12 mil km.

Ao contrário de outros países onde a venda casada é proibida, aqui no Brasil ela só é proibida no papel, porque na prática é honda mandando usar óleo da honda, yamaha mandando usar óleo da yamaha, kawasaki mandando usar óleo da kawasaki...

Esta última tem um acordo comercial com a mobil para usar o óleo semissintético Super Moto 4T MX 10W-40 (o mesmo que a suzuki recomenda):
Olha lá o kawasaki na parte inferior do rótulo...

Será esse óleo semissintético que será colocado na sua moto kawasaki, então você estará um pouco melhor aqui no Brasil do que os clientes lá na Índia, de onde esse pdf do manual foi obtido.

Mas não muito melhor, porque um óleo semissintético não é um óleo puramente sintético.

É preciso tomar cuidado com algo essencial:

Todas as motos da kawasaki trabalham com arrefecimento líquido, exceto as pequenas fora de estrada como a KLX 110:
Imagem: http://kawasakibrasil.com.br/produtos/klx110/

Então o uso de um óleo de menor viscosidade que a recomendável para as temperaturas em nosso país não será um problema tão crítico para a maioria das máquinas deles — mas certamente será problema para as trilheiras.

Motores de arrefecimento líquido trabalham com temperatura limitada a 115-120 °C, bem abaixo dos 160-170 °C típico dos motores esfriados a ar.

Mas apesar de o arrefecimento líquido aliviar as coisas, com 12 mil km para troca não há óleo que aguente tanta contaminação por partículas de desgaste... 

Nem motor que mereça tamanho sacrifício.

Note que o óleo da parceria mobil/kawasaki não é um óleo puramente sintético de qualidades amplamente superiores como foi visto no vídeo promocional da shell.

É um óleo semissintético, ou seja, uma mistura principalmente de óleo mineral com uma parcela de óleo sintético e aditivos para compatibilizar os dois...

E a kawasaki está dizendo que esse óleo aguenta 12 mil km, assim como o filtro de óleo...

Difícil, hein?

Serão longos 12 mil km com seu motor sofrendo com as partículas de desgaste lá dentro do motor.

Na hora da primeira troca, você já estará meio decepcionado com o desempenho do câmbio e motor.

Aí ele ganhará um refresco com o óleo novo, e você passará mais 12 mil km vendo o comportamento da moto piorar cada vez mais...

Já na segunda revisão, depois de quase um ano, o pessoal vai te sugerir a compra de um modelo mais novo e você estará inclinado a aceitar alegremente achando que é um ótimo negócio.

São as sutilezas que os intervalos de troca de óleo extremamente longos proporcionam.

Não sei porque fui lembrar agora daquele negócio de cozinhar uma rã viva lentamente...

Conhece a história?

Cozinhando uma rã em fogo baixo, ela não percebe que está sendo cozida e morre sem nem tentar fugir...

Não sei o que isso tem a ver com troca de óleo a cada 12 mil quilômetros, deve ser coisa da minha cabeça.

Acho que foi por causa da cor verde.
Imagem: http://convenientsolutions.blogspot.com.br/2014/05/frogs-in-pot.html

Um abraço,

Jeff

12 comentários:

  1. Vou procurar umas rãs por aqui e fazer a experiência... brincadeiras a parte. Toda adaptação tem um limite, sendo que após o limite ter sido ultrapassado, é colapso total (morte ou quebra da peça ou desmoronamento). A história das rãs tem tudo a ver e é um ótimo lembrete de que é preciso pular fora e não aceitar o lento cozimento.
    Abração.

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    1. Coitadinhas!!!! Não faz isso não...
      Vou aproveitar seu comentário para responder a um leitor que está estranhando a moto dele não chegar mais à velocidade que chegava...
      Um abraço,
      Jeff

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  2. O leitor Osmar Takashi comentou no facebook:

    Olha Jeff, nesse caso aí eu achei um grande exagero. Se fosse eu trocaria com 6 mil km, seguindo a mesma lógica que faço no meu carro. Troco a cada 5k ou 6 meses. Na minha atual z300 estou trocando conforme manda o figurino, 3k km (não acho um absurdo).

    Olá, Takashi!

    Realmente 3 mil km não é uma quilometragem absurda para uma moto de arrefecimento líquido usando óleo semissintético.

    Considero excessivo para um óleo mineral com base na minha experiência com a Edith, passei a fazer a troca a cada 2500 km em vez dos 3 mil recomendados.

    O arrepiante é ver um fabricante como a kawasaki falando em 12 mil km sem fazer distinção entre um tipo e outro.

    Mesmo os prudentes usando óleo semissintético que farão a troca na metade do tempo, farão a troca a cada 6 mil km.

    Eu não usaria um óleo semissintético em motores de arrefecimento líquido por mais do que 4 mil km, já ficaria incomodado de pensar no que está acontecendo dentro do motor há tanto tempo sem troca.

    Por que considero 6 mil km uma quilometragem exagerada?

    O motor da moto trabalha normalmente em rotações mais elevadas que o motor de um carro.

    Enquanto a potência máxima de um motor automotivo você encontra na casa das 5500 rpm, nas motos o motor trabalha praticamente ao dobro disso.

    Na mesma quilometragem, os pistões de uma moto subiram e desceram quase duas vezes mais do que os de um carro, e o óleo foi cisalhado (submetido a esforços mecânicos desagregadores de suas moléculas) pelo dobro de vezes.

    Por isso que não dá para comparar intervalos de troca de óleo de carros e de motos, os intervalos para motos precisam ser menores porque as condições são muito piores.

    O fato de o óleo não pretejar indica que ele não se oxidou, mas não dá ideia do volume de pó disperso em suspensão. O pó só altera a limpidez do óleo, deixa ele turvo.

    E o principal estrago é o lixamento dos mancais ocorrendo durante todo o tempo em que óleo e filtros não foram trocados. Mais a perda da eficiência lubrificante do óleo.

    O que a kawasaki está propondo é mais do que um grande exagero. É uma maneira de impedir que a melhor qualidade dos óleos atuais resulte em maior vida útil dos motores.

    Para os fabricantes de motos, não interessa ver motores melhor protegidos por óleos de alta tecnologia. Mas em termos de marketing, eles precisam dizer que estão preocupados em oferecer a melhor proteção recomendando os melhores óleos.

    Daí eles sabotam a eficiência dos óleos recorrendo a quantidades insuficientes para atingir o nível recomendado, prazos de troca absurdos e diminuindo a viscosidade — assim as motos mantém a mesma rotatividade de mercado de sempre.

    A honda exagerou na dose e o macete ficou escancarado, e eles estão fazendo de tudo para se livrar da encrenca em que se meteram.

    E ninguém descobre porque poucos têm formação técnica, experiência prática no assunto e desprendimento profissional para identificar e denunciar os macetes.

    Um abraço,
    Jeff

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    1. Ao propor quilometragens de troca tão elevadas, mesmo os prudentes fazendo a troca na metade da quilometragem já estarão cometendo um crime de lesa-patrimônio próprio.

      Uma montadora aumenta o intervalo de troca aqui, outra aumenta ali, logo os intervalos estarão tão longos que ninguém mais irá estranhar o absurdo da coisa.

      Foi o que eu quis dizer com "estarmos sendo cozidos em fogo lento".

      Eu de novo,
      Eu

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  3. Entendo sua colocação. As montadoras propõe uma quilometragem bem alta, cabe ao consumidor decidir se segue ou não (eu não seguiria essa troca de 12k). Porém como nem todos têm o devido conhecimento acabam seguindo o manual à risca sem levar em consideração o tipo de uso que faz com a moto. Porém, pela minha parca experiência o que acho muito mais crítico além disso tudo é a falta de óleo no cárter. Muitos insistem em não verificar o nível e confiando e deixando sempre no meio. Aí não olham o nível e tá feita a cagada. Vou fazer um vídeo de alerta assim que minha z sair da próxima da revisão e voltar sem óleo como aconteceu na de mil km, mas eu já bem esperto chegando em casa completei até o max.

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    1. Valeu, Takashi!
      Certamente descuidar do nível e não repor o óleo é a pior coisa para o motor, é o que o destrói mais rapidamente.
      Fico no aguardo sobre as novidades!
      Abração,
      Jeff

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  4. Jeff, uma outra coisa relacionada a isso que andei pensando ultimamente, trabalhei em uma loja que vendida diversos modelos de geradores, principalmente com motores a gasolina 4 tempos, e uma coisa que todos esses motores tinham era um sensor de nível de óleo, na verdade grande maioria de motores estacionários possuem esse sensor que impede o motor de funcionar se o nível de óleo estiver abaixo do recomendável, imagino porque nossos motores não possuem algo parecido.

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    1. Olá, Ed!
      No caso das motos um sensor de nível seria problemático, porque ele daria indicação de nível baixo todas as vezes que a moto fizesse uma curva para o lado oposto ao local de instalação do sensor. Mesmo que fosse instalado no centro do motor, ele daria sinal falso na hora em que a moto enfrentasse uma ladeira, ou subindo ou descendo.
      Mas motos maiores possuem um sensor de pressão de óleo. Meu irmão até agora só não fundiu o motor da moto dele graças a essa luzinha no painel. Mas a vida útil do motor dele não será a mesma de um motor bem tratado.
      Os dois únicos motivos para as fabricantes não instalarem luzes de advertência de pressão do óleo nos motores das motos pequenas é que isso encareceria a moto em uma centena de reais (sensor, ferramental para fazer a furação do local de instalação, fiação, lâmpada, trabalho de instalação). O outro motivo é que os motores demorariam muito mais para fundir.
      No resto do mundo, motos pequenas são vendidas muito barato, a margem de lucro é pequena, os ganhos vêm da venda de peças e da rotatividade na compra de motos novas.
      No Brasil as motinhos (e as motonas) são todas extremamente caras, e mesmo assim, o pessoal aplica as mesmas técnicas. Não é à toa que as filiais brasileiras são as mais rentáveis do mundo.
      Um abraço,
      Jeff

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  5. Este manual dever ser distribuído na Europa. Lá alguns carros tem preços de troca até acima de 20mil km. No manual (brasileiro) da minha Kawasaki 650 recomenda trocar a cada 6mil km ou intervalos menores em caso de uso severo. Achei absolutamente normal...

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    1. Olá, Sergio!
      Essa mudança do manual é recente. Qual o ano da sua moto?
      Teria como você mandar uma foto dessa página do seu manual para a gente esclarecer a dúvida?
      Meu email é jefferson.tradutor@gmail.com
      Um abraço,
      Jeff

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    2. Obrigado, fico no aguardo!
      Um abraço,
      Jeff

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