quarta-feira, 8 de abril de 2015

Viagem pouca é bobagem — a esticada

Eu queria conhecer pessoalmente o Cássio de Goiânia, velho conhecido virtual do fórum das Kansas — o Cássio é outro viajante que gosta de encarar jornadas solitárias de centenas de quilômetros.

Na mesma semana que ele avisou que tinha se mudado para Pouso Alegre, e então seria mais fácil um dia a gente poder trocar ideias, eu tinha me mudado para a região de Floripa... ficou difícil novamente.


Como estávamos perto de Pouso Alegre, e eu ainda não tinha uma bandeirinha de Minas na coleção, o caminho que Edith e eu fizemos na volta para casa sofreu um pequeno desvio pelo sul de Minas:



Mas vamos do princípio...

Esta etapa começou com nossa separação dos paulistas em Lorena. De lá sai uma estradinha maravilhosa chamada Juscelino Kubitschek, a BR-459.

Em Lorena, eu lá na frente indo pegar a BR-459 e o pessoal ficando no espelho do Vinícius em foto da Marlene... é o momento da tristeza da separação e da torcida para que todos cheguem bem em suas casas...
Parei em Piquete, no pé da serra da Mantiqueira, porque a chuva não estaria fácil dali pra frente. E se eu parei para colocar capa, é porque ia chover muito mesmo...

Dali pra frente, a BR-459 é uma curva atrás da outra atrás da outra atrás da outra...


Nem a chuva monumental daquela tarde tirou o prazer de subir essa serra, olha só que coisa mais linda... água que não parava de cair, motociclistas abrigados em ponto de ônibus, e nós só na empolgação... a BR-459 a partir de agora está na minha lista de rodovias a serem percorridas novamente.

No caminho descobrimos que a BR-459 tem uma coisa engraçada. Ou melhor, não tem.

Ela não tem postos de gasolina. Você roda, roda, vê montanha, vê vale, vê vaca leiteira, vê o 14 Bis, vê o Clube da Esquina, vê até o ET de Varginha, mas posto de gasolina que é bom... é raridade.

Depois de rodar 130 km desde Penedo, forçando motor em uma serra nervosa, resolvi não apostar na sorte e no entroncamento de acesso a Delfim Moreira peguei um retorno para procurar um posto no centro da cidade.


E só agora revendo o trajeto é que descubro que com a chuva, não estava onde pensava que estava... saímos da BR-459 e pegamos a MG-350 MG-360... (a MG-360 é curtinha e termina na MG-350 no entroncamento de Delfim Moreira)...

Deve ter sido trabalho do meu anjo da guarda, porque apesar das curvinhas maravilhosas que perdemos de fazer (sniff!), certamente não teríamos gasolina para chegar a Wenceslau Brás. E foi muita sorte que depois as duas rodovias se encontravam de novo.

Logo na entrada de Delfim Moreira perguntei a um cidadão local onde ficava o posto e ele disse que era pertinho, no centro da cidade. 

Pertinho de mineiro? Hummm.... 

E não é que era pertinho mesmo? Só 2 km, que me pareceram 20. Acho que foi minha paúra de que acabasse a gasolina.

Reabastecemos no posto e na padoca local exatamente às 18 horas, porque o sino da igreja começou a tocar e não parou mais, até que um padre começou a cantar e não parou mais. 
Simpática Delfim Moreira com simpáticos moradores

Tirei a capa de chuva porque o pior já tinha ficado lá atrás na serra. (Nota mental: tirar capa de chuva atrai chuva.)

O bom de Minas é que tem uma serra depois da outra... e é claro que choveu.

Não só choveu como caiu muita água do céu, mas eu já estava tão cansado e o trabalho de recolocar a capa de chuva era tão desanimador que segui em frente.

Anoiteceu, continuou a chover, eu não enxergava mais nada em uma estrada com faixas muito pouco refletivas... chegou uma hora que, sem óculos de grau, eu enxergava melhor do que com eles. 

Nessas horas em que o perigo maior era sair da estrada por absoluta falta de enxergar o caminho à frente, tive que abrir a viseira — não gosto e não recomendo, porque sempre pode vir uma pedra arremessada pelo carro à frente, mas quando não tem outro jeito e você não pode adiar um compromisso...

A tática foi aguardar que carros passassem e ir atrás deles até onde fosse possível, pelo menos eles davam uma ideia de qual lado ficava a próxima curva. (Nota mental: limar o suporte do farol da Fenix para ganhar um pouco mais de farol alto.)

Navegamos por Itajubá e não vi absolutamente nada da cidade, a cortina de água não deixou. 

Finalmente a chuva amainou e quando eu não aguentava mais de cansaço, vi as luzes de Pouso Alegre logo à frente, minha alegria foi enorme.

Pena que a alegria só durou até descobrir que aquelas luzes eram de Santa Rita do Sapucaí... ainda tínhamos 30 infindáveis e doloridos quilômetros pela frente...


Chama a atenção em Santa Rita do Sapucaí é que a rodovia aproveita o antigo traçado da ferrovia, caminho de ferro mandaram arrancar, então você circula no meio de antigas estações e depósitos... 


Para minha surpresa, cruzamos com a Fernão Dias 5 km antes de chegarmos a Pouso Alegre. No meu gps mental ela ficava depois de Pouso... pelo menos agora eu sabia que na volta teríamos de retornar para pegá-la diretamente para o sul.

Não gosto da Fernão porque é uma estrada monótona, retas infindáveis... mas o cansaço estava falando alto, quase gritando.

Chegamos a Pouso Alegre lá pelas 9 da noite, parei na rodoviária da cidade por ser um local fácil de achar. Para minha sorte, também era o local do melhor quiosque de batata com bacon da cidade, dica do Cássio.

Catedral de Pouso Alegre
Finalmente nos conhecemos pessoalmente, e falamos das aventuras vividas com sua Kansas Carol, a guerreira, que o Cássio pilotou várias vezes entre Goiânia e Pouso Alegre, e também da minha Kansas Jezebel, e agora da Fenix Gold Edith. 

Rodando pelas estradas mineiras pude entender a aventura que ele contou uma vez lá no fórum, de como tinha mudado de estrada sem perceber e só foi descobrir muito à frente... é fácil se perder nas estradas de Minas, ainda mais viajando à noite (ainda mais agora que descobri que rodei 25 km nas estradas erradas sem perceber)

Pernoitei em um bom hotel com direito a um ótimo café da manhã (café com leite, pão com manteiga mineira, pão de queijo, romeu e julieta, doce de leite com queijo minas em Minas é tudo de bom!)

Como viagem pouca é bobagem, e quando chegava em Pouso eu vi uma placa dizendo que a próxima cidade a apenas 60 km era Poços de Caldas, que sempre quis conhecer, pensei: Por que não? Mal sabia eu...

Se faltava um empurrão, ele veio quando o Cássio falou na noite anterior que as curvas para o lado de lá eram muito boas... e eram mesmo, olha só que coisa mais linda:

Cinco grampinhos em um trecho de 6 quilômetros, é bom dimais da conta, sô!
Diferente da Mantiqueira no trecho paulista, esse trecho entre Pouso e Poços tem curvas amplas e uma subida menos íngreme, o que permite fazer esses grampinhos sem diminuir a velocidade... manhã linda com sol e Edith e eu éramos só felicidade...

Parada estratégica em Ipuiuna para hidratar e alertar o dono de uma Kansas sobre a quantidade de óleo que vai no motor. 

Coisa que chama a atenção em Ipuiuna é que 
as casas e o comércio local são construídos bem à beira da rodovia.
Minha curiosidade com Poços de Caldas ocorreu porque foi a cidade que meus pais escolheram para visitar assim que se casaram, e lá fizeram amizade com mais dois casais também em lua de mel, amizade essa que durou por muitos anos, até minha adolescência... bons tempos aqueles... 

Infelizmente, a cidade não conseguiu preservar muito bem sua beleza... como todas as cidades do Brasil, cresceu desorganizada.

Os pontos turísticos ainda estão lá, como o antigo Palace Cassino que foi cassado, e o Palace Hotel. 


O rio das Antas ainda corta a cidade, mas construíram uma avenida de duas pistas ao seu lado, não é mais um local para passeios românticos. 


E em boa parte do trajeto o modernoso monotrilho abandonado dos anos 90 está lá, enferrujado, decadente, triste...

E aquela que era uma das maiores atrações turísticas da cidade, a cascata das Antas, hoje sofre com a poluição...  


No dia em que fomos lá, estava reduzida a um filete de águas não puras... e a usina hidrelétrica que construíram ao lado consome a maior parte da vazão do rio... uma pena.

Parei para almoçar em um posto de gasolina que tinha como anexo uma churrascaria Uai Tchê — bufê livre por 10 reais... 

Parei na sombra ao lado de outra moto no posto. O frentista disse que ali não podia, tinha que parar ao lado de outra moto, na frente do posto.

Debaixo do sol do meio dia? Passar bem. 

Fomos para o restaurante do Júnior, Edith ficou estacionada na sombra de uma árvore, mesa na calçada coberta com prato executivo por 10 reais. 

Estrogonofe, arroz, fritas e salada que vieram em um prato uma travessa grande. Nunca comi tanto e tão bem por 10 reais.

Como a dor na interface com o assento era por demais abundante, dei o braço a torcer, gastei meia hora retirando os bancos e instalei a almofada Salvabun® que mandei fazer para Jezebel e estava guardada na mochila. 

É, eu não queria enfeiar a moto... mas uma coisa eu aceitei de coração (ou alguma outra parte do meu corpo): ela pode não ficar muito bonita sobre a moto, mas fez A diferença na volta. (Nota mental: próxima viagem, instalar Salvabun® antes de sair de casa.)

Depois do almoço e na tentativa de conhecer a cascata do Véu de Noiva, mantivemos a tradição WD±40 e erramos o caminho, voltando ao ponto de partida. 

Poxa, era bonita a danada, e eu não vi... precisamos voltar lá.

Desistimos da cascata da noiva e tocamos em frente, mesmo porque nessa peregrinação encontramos uma placa que indicava São Paulo por um caminho alternativo, via Campinas... 

Eu não fazia ideia de que caminho era esse, mas me pareceu preferível (e menos dolorido) fazer isso do que voltar 115 km para pegar a monótona Fernão Dias. Apesar das curvinhas da 459.

E a escolha foi boa, porque acabamos cortando caminho, e voltar por Campinas nos permitiria descer aquela estrada delic feia, chata e boba da serra do Juquiá após o pernoite em Sorocaba.

Pernoite que não ocorreu...

Mas essa eu vou deixar para contar em outra postagem, que esta aqui ficou longa, e ainda tem a melhor parte da aventura para contar.

Um abraço,

Jeff

4 comentários:

  1. Respostas
    1. Desfrutar de belas curvas é uma das melhores coisas da vida...
      Péraí, estamos falando da mesma coisa?
      Um abraço,
      Jeff

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    2. Não importa os dois sentidos sao validos kkk

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