quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Álcool na gasolina e os reféns da petrobras (nós)

O senado aprovou aumentar o teor de álcool na gasolina para 27,5%, agora só falta o jamegão da presidente.


Reportagem: http://g1.globo.com/politica/noticia/2014/09/senado-aprova-aumento-percentual-de-biodiesel-no-oleo-diesel.html

Em nenhum lugar do mundo se adiciona um teor tão elevado de álcool (um combustível inferior, de menor poder calorífico) à gasolina. 

Sabe por quê?


Porque os estudos técnicos dos fabricantes de autos e motos não recomendam; excesso de álcool estraga os motores.


Mas no Brasil, os estudos técnicos são feitos pelos usineiros e congressistas. E os fabricantes, que poderiam contestar o absurdo, lavam as mãos porque assim se ganha ainda mais dinheiro.


Quer ver como a coisa funciona lá fora, onde existe respeito ao consumidor, porque senão o pessoal vai para a cadeia?


Achei na internet esta página, olha só que coisa mais linda:


Imagem: Site de um grande fabricante de automóveis do sudeste asiático

Não entendeu nada?

Tudo bem, eu explico e traduzo.


Essa é a página de um Manual do Proprietário original de um carro qualquer comercializado lá fora. Mas poderia ser uma moto, porque as precauções quanto ao combustível são válidas para qualquer motor.


Esse mesmo carro também é vendido aqui no Brasil, mas será que o manual brasileiro fala essas coisas sobre o uso de álcool misturado na gasolina?


Bom, vamos a uma pequena introdução:

Toda a gasolina vendida no Brasil é produzida pela petrobras e distribuída por diversas bandeiras que acrescentam ou não aditivos para melhorar seu desempenho.

A petrobras mistura 25% de álcool na gasolina já na refinaria por força de lei imposta na ditadura militar. 


E agora, por pressão dos usineiros que dominam o congresso, o governo está pronto para aumentar esse teor para 27,5%... 

Em nenhum lugar do mundo se adiciona tamanha quantidade de álcool na gasolina simplesmente porque é danoso aos motores — lá fora, se você prejudica alguém, você responde na Justiça. E a Justiça é justa para todos.

Lá fora nossa gasolina nem sequer é considerada gasolina; ela é chamada de gasohol E25 (E25 = 25% de etanol, álcool). 



Fonte: http://www.thefreedictionary.com/gasohol

Nem adianta procurar, a palavra gasohol ou gasool não existe no Português porque Portugal não adiciona álcool na gasolina, e porque o governo brasileiro quer que você continue acreditando que aquilo que vai no seu tanque é gasolina.

A verdade é que não existe gasolina pura à venda nos postos; nem a Podium ou a Premium da petrobras estão livres de álcool.



Fonte: http://www.br.com.br/wps/portal/portalconteudo/produtos/automotivos/gasolina/!ut/p/c5/04_SB8K8xLLM9MSSzPy8xBz9CP0os3hLf0N_P293QwP3YE9nAyNTD5egIEcnQ4MgQ6B8JJK8v7-nK1DewNXVw9gcqNyYgG4_j_zcVP1I_ShznKrcTPQjc1LTE5Mr9QtyI8rzHRUVAYJXfMY!/dl3/d3/L0lJSklna2shL0lCakFBRXlBQkVSQ0lBISEvWUZOQzFOS18yN3chLzdfOU8xT05LRzEwR1NJQzAyNUhEUlJBQjEwRjQ!/?PC_7_9O1ONKG10GSIC025HDRRAB10F4000000_WCM_CONTEXT=/wps/wcm/connect/portal+de+conteudo/produtos/automotivos/gasolina/gasolina+petrobras+podium/gasolina+podium+de+a+a+z#11 

Fonte: http://www.petrobras.com.br/pt/produtos-e-servicos/produtos/automotivos/gasolina 

Em qualquer lugar do mundo existe a gasolina 100% pura à disposição dos consumidores, e eles podem optar por gasohol, um produto mais barato, já que contém etanol. É assim na imensa maioria dos países. Menos no Brasil.

Nos EUA e maioria dos mais vinte e poucos países que também usam gasohol, se oferece a opção do abastecimento com gasohol de apenas 10% de álcool (E10), e mesmo assim esse Manual do Proprietário alerta para os riscos e as precauções a tomar quanto ao uso desse combustível batizado "amigo" da natureza.

Lembre-se, nossa gasolina gasohol E25 tem 25% de álcool... por enquanto. 


Leia o alerta do fabricante na íntegra, o texto é saboroso:


Gasolina contendo álcool e metanol


Gasohol, uma mistura de gasolina e etanol (também conhecido como álcool de grãos [no Brasil, de cana]), e [também] gasolina ou gasohol contendo metanol (também conhecido como álcool da madeira) estão sendo comercializados junto com, ou no lugar de, gasolina com ou sem chumbo

[Chumbo aumenta o índice antidetonante da gasolina, mas foi banido na maioria dos lugares por ser muito tóxico. Gasolina com chumbo deixou de ser usada no Brasil nos anos 70 a partir de 1989, o álcool e outros aditivos ocuparam seu lugar. Leia com atenção o próximo parágrafo:]


Não use gasohol contendo mais do que 10% de etanol [álcool], e não use gasolina ou gasohol contendo qualquer metanol. Qualquer um desses combustíveis pode causar problemas de dirigibilidade e danificar o sistema de combustível.

[Só lembrando, nosso gasohol E25 contém 150% (duas vezes e meia) mais álcool do que o máximo recomendado para uso em motores pelos fabricantes. E em breve serão 175%...]

Descontinue o uso de gasohol de qualquer tipo se ocorrerem problemas de dirigibilidade.

[E o consumidor brasileiro, como fica? Não tem opção, mys friendes... ou é essa b0$&@ ou é essa b0$&@.]

Dano ao veículo ou problemas de dirigibilidade poderão não ser cobertos pela garantia do fabricante se eles resultarem do uso de:

1. Gasohol contendo mais do que 10% de etanol. [Pois é... 27,5%, lembra?]
2. Gasolina ou gasohol contendo metanol.
3. Combustível com chumbo ou gasohol com chumbo.

[Agora eles passam a falar de combustível para carro flex deles lá fora. Então, lá fora existe combustível apropriado para não estragar motor de carro flex, o tal E85; aqui no Brasil, vale tudo.]

O combustível "E85" é um combustível alternativo composto de 85% de etanol e 15% de gasolina, e é fabricado exclusivamente [lá fora] para uso em Veículos de Combustível Flex. “E85” não é compatível com seu veículo. 


O uso de “E85” pode resultar em desempenho insatisfatório do motor e danificar o motor e sistema de combustível de seu veículo [não-flex]


XXXXXXXXXX recomenda que os clientes não usem combustível com teor de etanol superior a 10%.

ATENÇÃO
Sua Garantia Limitada de Veículo Novo não cobre dano ao sistema de combustível ou quaisquer problemas de desempenho causados pelo uso de combustível “E85”. 

Aí você pergunta, como ficam os motores flex brasileiros, já que não temos combustível E85? 


Como fica a imensa maioria dos proprietários de motos com motores que não são "flex"?


Os motores brasileiros são melhores que os fabricados lá fora para poderem rodar com mais do que 10% de álcool na gasolina?


A resposta é simples:


Claro que não. 


É quase tudo marketing. Marketing e clientes cativos, no pior sentido.


Os motores flex trabalham com compressão mais elevada e controle eletrônico da ignição para evitar que a gasolina entre em auto-ignição. Não é ideal nem para a gasolina, nem para o álcool. 


Eu chamo isso de quebra-galho paliativo técnico.

O preço do álcool é mantido em um patamar artificialmente alto para que não seja vantajoso consumir álcool puro (E100) ou misturas com alto teor de álcool.


Se compensasse você colocar somente álcool, você apenas estaria destruindo seu motor flex mais rápido. Tão rápido que o motor daria problema ainda antes do final da garantia, já vimos este filme.

Já os motores comuns não flex, como os de nossas motos, são obrigados a trabalhar com um combustível que o mundo inteiro reconhece como danoso, menos a propaganda brasileira.

Você paga caro para colocarem lixo no seu tanque com direito a propaganda até no meio da novela das 8.

E as informações que tentam isolar você do resto do mundo não param por aí.

Se você ler a wikipedia em português, encontrará a informação de que a gasolina queima na proporção de 13,5 partes de ar para 1 de gasolina.



Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Álcool

ISSO É MENTIRA!

Melhor dizendo, isso pode ser verdade para o gasohol, mas nunca para a gasolina.

A gasolina verdadeira queima na proporção de 14,7 partes de ar para 1 de gasolina.



Fonte: http://en.wikipedia.org/wiki/Stoichiometry#Stoichiometric_air-to-fuel_ratios_of_common_fuels

Sabe o que isso quer dizer?

Que no Brasil você é obrigado a colocar mais gasohol para ter o mesmo resultado da queima do combustível.


A diferença percentual de consumo para o mesmo volume de ar entre os dois combustíveis é de (14,7/13,5)= 8,9%.


Você precisa colocar 8,9% a mais de gasolina brasileira batizada para ter a mesma queima ideal que uma gasolina de verdade. 


Somando o fato que o álcool tem menor poder calorífico, você agora entende porque os motores a álcool consomem 32% a mais do que os motores a gasolina.


Detalhe: isso já comparando o álcool com o gasohol vendido como se fosse gasolina. 


Se fosse gasolina de verdade, a diferença ia estar na casa dos 50% — você precisa do dobro de álcool para rodar o mesmo que a gasolina de verdade, aquela que você provavelmente nunca viu na vida.

E pagando bem mais caro pelo "privilégio" de precisar mais combustível para rodar a mesma coisa.


Você duvida? 


Dá um pulinho em qualquer país vizinho (menos o Paraguai), encha o tanque por lá pagando um terço do que paga aqui, e descubra a alegria que a gasolina de verdade dará ao seu motor.


Quem mora na fronteira sabe bem disso.


Você paga mais caro para destruírem seu motor com essa gasolina alcoolizada de fábrica que você é obrigado a usar porque não tem alternativa, e só não percebe porque isso ocorre lentamente.


O marketing dos fabricantes te induz a trocar de carro/moto todos os anos, ou no máximo em poucos anos. 


Quem compra um veículo usado e vê o motor abrir o bico, pensa que teve azar — quando na verdade esse motor já nasceu condenado a penar.


Com combustível de qualidade, o motor dos carros poderia rodar várias centenas de milhares de km durante dezenas de anos em perfeitas condições, como acontecia antigamente; hoje em dia, você só vê carros com 2 ou 3 anos de uso implorando retífica. Quando não acontece ainda durante a garantia...


Para as motos, no parágrafo acima altere a palavra várias por algumas, que está valendo.

O Proalcool é apenas um programa para os usineiros de álcool contarem com um mercado cativo para despejar sua produção via a falsa gasolina da petrobras.


Mesmo assim, o álcool sobe de preço junto e até mais do que a gasolina porque os usineiros pautam suas vendas pela cotação no mercado internacional.

Eles contraem dívidas em reais junto ao BNDES com juros camaradas para produzirem álcool para a petrobras, e vendem o álcool pelo melhor preço que encontram no mercado, não necessariamente para a petrobras. 

Eles nunca têm prejuízo porque contam com a segurança da garantia de consumo da petrobras, que nos enfia tanque abaixo a pior gasolina do mundo pelo pior preço do mundo.

Muitos usineiros não pagam as dívidas contraídas com o BNDES, pedem concordata e refinanciam novamente suas dívidas com o BNDES. Que é financiado com o dinheiro dos impostos cobrados dos brasileiros.

Mesmo assim, apesar de todas essas vantagens e benesses governamentais, os usineiros vivem quebrando, alegam não ter dinheiro para pagar as dívidas, coitados.

Mas alguns têm dinheiro suficiente para bancar jatinhos executivos para candidatos com potencial de chegar à presidência da república, que é quem atribui o cargo de presidente do BNDES.

O Brasil já mostrou sua cara...


Já sabemos quem paga pra gente ficar assim.


Se prepare para o gasohol E28 que vão nos enfiar goela abaixo.


Ah, já ia esquecendo...


Adivinha o que vem por aí no primeiro dia depois das eleições?



Reportagem: http://g1.globo.com/globo-news/conta-corrente/platb/2014/09/03/ministro-da-fazenda-sinaliza-novo-aumento-da-gasolina-este-ano/

Hoje não tem abraço,

Jefferson

2 comentários:

  1. Bom dia Jeff.
    Esse parágrafo me chamou atenção: "Se compensasse você colocar somente álcool, você apenas estaria destruindo seu motor flex mais rápido. Tão rápido que o motor daria problema ainda antes do final da garantia, já vimos este filme."
    Teria mais informações a respeito desse desgaste? Ele acontece também em motores que são movidos somente a etanol?
    Abraços

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    Respostas
    1. Olá, Daniel!
      Eu estava empolgado nesse dia!
      Não levei em conta que o poder calorífico do álcool é menor, o que seria um efeito atenuante. Outro dia conversei com o Daniel que conhece um motor a álcool com quilometragem excepcionalmente alta, mas pertence a um professor engenheiro automotivo que sempre tratou o motor como todo motor mereceria, fazendo as trocas em intervalos adequados para o seu tipo de uso.
      O melhor argumento que tenho para essa afirmação de o álcool ser um inimigo mortal do óleo é declaração dos engenheiros da volkswagen na postagem de 23/10.
      A composição química da gasolina pura (não aquilo que é vendido no Brasil) é basicamente hidrocarboneto (C8H18).
      São grandes moléculas de carbono e hidrogênio que, ao reagir com o oxigênio do ar na queima formam água (H2O) e CO2.
      Já o etanol é composto de moléculas menores de CH3 CH2OH ou H6OC2 — além da reação do hidrogênio e do carbono formando as mesmas substâncias que a gasolina pura, o oxigênio ou a oxidrila do etanol também formarão água adicional.
      Ou seja, a queima do etanol resulta em maior volume proporcional de vapor de água.
      A contaminação do óleo do cárter com água forma uma emulsão que não tem a mesma capacidade lubrificante do óleo puro, e que ajuda a desgastar o motor mais rápido.
      É nisso que me baseio, mas muita gente diz o contrário e isso tem grande divulgação na imprensa desde a época que os militares criaram o proálcool. Como essa afirmações partem de pessoas ligadas à indústria alcooleira ou automotiva, me reservo o direito de ficar com um pé atrás.
      Um abraço,
      Jeff

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