quarta-feira, 19 de março de 2014

O que podemos aprender com o vídeo de ontem?

Passado o impacto emocional do filme de ontem, podemos usá-lo para tirar algumas lições que podem ser muito úteis no futuro.

Para quem não viu, parece que o vídeo foi removido do G1, mas encontrei no youtube neste link aqui.


Primeiro, o que causou a perda de controle do carro?


Ele se lançou em uma ultrapassagem sem ter noção exata do que teria pela frente.


Ele viu só a traseira e não percebeu que não era uma carreta comum, mas um bitrem, olha só que coisa:



t = 8 segundos
O motorista deveria ter recolhido ao ver que a ultrapassagem seria mais demorada do que o previsto, mas ele contou com a potência do motor.

Ele conseguiu ultrapassar o bitrem, mas foi obrigado a retornar para sua pista bruscamente para não colidir com o SUV que ia à frente da moto.


Para não sair da pista pelo lado acostamento, corrigiu excessivamente e perdeu o controle, vindo para a contramão.


Então o motorista não teve culpa?


Claro que teve. Mesmo que a placa de comprimento longo 30 metros tivesse caído, ele já havia ultrapassado outro bitrem, que só aparece aos 10 segundos no vídeo.



t = 10 segundos
Então ele tinha ciência de que veículos mais longos que o normal estavam se deslocando naquela estrada e deveria ter tido cautela.

Segundo o depoimento do motociclista, o carro teria ultrapassado os dois bitrens em uma única arrancada para não ficar preso entre os dois, mas o filme não consegue registrar isso e existe a possibilidade de ser apenas sua interpretação para o acidente.

O fato é que ninguém pode se lançar numa ultrapassagem dessa maneira, dando chance para o azar, nem que fosse um único caminhão ou bitrem.

Os motoristas dos bitrens fugiram da cena do acidente?

Os dois bitrens provavelmente eram de uma mesma empresa e seguiram viagem, sem parar para prestar socorro.

A carreta que vemos parada no acostamento vinha atrás dos dois bitrens.

Apesar de não terem feito nada para causar este acidente, tecnicamente eles abandonaram o local sim. 

Eles possivelmente consideraram que, não sendo causadores do acidente (e realmente não foram), nada poderiam fazer (mas poderiam telefonar para as autoridades) e estariam se envolvendo em um processo demorado e sem certeza do prevalecimento da Justiça (isso aqui é Brasil).

Seria difícil provar sua isenção de culpa apenas com depoimentos registrados em BO. Nós nunca saberíamos o que realmente ocorreu se não fosse a filmagem, e nem o juiz. 

De qualquer forma, ao testemunhar um acidente, é obrigação de todo motorista parar para prestar socorro. 

É o que diz a lei.

O motorista não viu o SUV vindo contra ele?

Viu sim, mas não conseguiu calcular corretamente o tempo necessário para fazer a ultrapassagem do bitrem.


Ele não considerou uma margem de segurança para voltar em condição controlada para sua pista.


Temos uma dificuldade natural para considerar a distância de uma ultrapassagem, e uma dificuldade ainda maior para avaliar a velocidade de veículos em sentido contrário e jogar esses fatores na mesma equação, o cérebro não tem capacidade de processamento para tanta informação em tão pouco tempo. 

Estas postagens comentam exatamente esse tipo de situação: 


O que salvou a vida do motociclista e garupa?

O piloto estava no lado esquerdo da faixa e teve reflexo de desviar a moto pela distância exata suficiente para se livrar do impacto.

O lado esquerdo é o preferido de 12 em cada 10 motociclistas, mas se ele não tivesse desviado, a colisão seria frontal e fatal.

Se ele já estivesse no lado direito da faixa, a filmagem não teria sido tão sensacional, e o susto não seria tão grande. 

Em rodovias de mão dupla, eu prefiro viajar o mais afastado possível do fluxo em sentido oposto para ter um tempo extra para escapar desse tipo de encrenca.

Ir pelo lado direito da faixa ainda te dá a alternativa de ir para o acostamento ou, na pior das hipóteses, ter um contato com a natureza na beira da estrada. 

São três vantagens que o lado esquerdo da pista não te proporciona. 

Se o piloto não tivesse sido ninja, talvez não sobrasse nem a câmera para contar a história. 

As pessoas no acostamento, inclusive o piloto e o garupa, poderiam ter sido atropelados.

Em um acidente, a atenção está voltada para as ferragens e as vítimas.

Motoristas reduzindo a velocidade para ver o que está acontecendo podem causar um engavetamento com carros se esparramando para o acostamento e atropelando os circunstantes.

Muitos socorristas profissionais já foram vitimados dessa maneira; se você não puder ajudar, não fique por perto. 

Você será mais útil correndo uns 200 metros antes do acidente para sinalizar a necessidade de reduzir a velocidade para os outros motoristas, sem colocar sua vida em risco.

Por que sinalizar de tão longe? 200 metros não é exagero?

Porque os motoristas precisam de tempo para te ver, entender seus sinais e reagir. 

Um carro a 100 km/h percorre quase 30 metros por segundo. Se ele levar 2 segundos para entender e agir, e 1 segundo para frear, ele terá desperdiçado 90 metros e vai se estabacar na fila de carros quase parados olhando o acidente e tentando não atropelar os curiosos.

Acredite, mesmo sinalizando o perigo à frente, ainda terá um sem noção que não reagirá e causará outro acidente.

Já vi muita coisa nesta vida.

A última lição que o vídeo nos ensina:

Difícil achar um motociclista que saiba regular os espelhos da moto.

Os espelhos estão muito fechados, permitindo ver a traseira da própria moto. 

Essa regulagem permite ver os veículos atrás da moto, mas o perigo maior não vem por trás (epa!), mas sim de quem está te ultrapassando, na diagonal do ponto cego que essa regulagem proporciona.

Claro que é bom saber se tem um caminhão muito perto de você, mas os espelhos mais abertos enquadrariam um carro ou uma moto ultrapassando o caminhão atrás de você.

Essa é uma situação muito mais perigosa, porque se ele precisar jogar o carro para cima de você por uma ultrapassagem mal calculada, tenha certeza de que ele o fará.

Espelhos abertos também permitirão ver quem está atrás de você, basta dar uma jogada rápida de cabeça para um lado ou outro. Isso também ajuda a destravar o pescoço em viagens longas.

A posição mais aberta dos espelhos também facilita ver se a área ao lado e atrás está livre para você sair para uma ultrapassagem, mas atenção:

Nunca dispense aquela olhadinha rápida por cima do ombro para conferir se ninguém ficou oculto no ponto cego!

O espelho aberto te mostrará um veículo próximo, mas não alguém em velocidade superior ao permitido cortando todo mundo.

Era isso, acho que eu disse tudo.

Um abraço,

Jeff 

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